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O SER E SEU DRAMA SEGUNDO DELEUZE

Antonio dos Santos Andrade

Atualizado: 6 de jul. de 2024

Às 16:30 horas do sábado 28 de janeiro de 1967, em Paris, no Anfiteatro Michelet da Sorbonne, sob a presidência de Jean Wahl, a Sociedade Francesa de Filosofia se reuniu para a conferência de Gilles Deleuze sob o título “O Método da Dramatização”. Na abertura das atividades Jean Wahl declina de uma apresentação do filósofo conferencista, com a justificativa de que todos já o conheciam por suas obras anteriores sobre Hume, Nietzsche e Proust. Passa-lhe então a palavra. [Como a conferência se realizou entre eminentes filósofos, procurarei, neste texto, além de resumi-la, ajudar o leitor com seus conceitos mais importantes (sempre entre colchetes), embora outros deixarei que o leitor, caso não seja iniciado em Filosofia, tome a palavra em seu sentido literal, por acreditar na literalidade característica da escrita deleuziana, conforme defendeu François Zourabichvili.]

Deleuze inicia com a Ideia [no sentido do termo filosófico usado desde Platão (século IV a.C.), que se pode entender como a essência de tudo o que é ou existe] ao destacar o tipo de questão ao qual ela responde. No platonismo, sua forma é: Que é...?, considerada como nobre ou maior, por buscar a essência, e opõe-se a outras, consideradas como vulgares ou menores, por remeterem ao exemplo ou ao acidente, como: pelo que é...?, onde...?, quando...?, como...? e quanto...?, expressão de um pensamento confuso, de velhos, crianças inábeis ou sofistas. Mas, posteriormente, nos Diálogos que compõem a última dialética platônica, assiste-se a uma inversão, já que se assume as formas ditas menores: quem? no [Diálogo: O] Político; quanto? no Filebo; onde? e quando? no Sofista; em qual caso? no Parmênides. Para Deleuze, “é como se a Ideia só fosse positivamente determinável em função de uma tipologia, de uma topologia, de uma posologia, de uma casuística transcendentais”. Na sequência, destaca a posição de Hegel, para quem a dialética pressupõe uma “essência vazia e abstrata”, que “não se separa do movimento da contradição”. Para Deleuze, a questão: Que é? prejulga a Ideia como simplicidade da essência: “então, é forçoso que a essência simples se contradiga, pois ela tem de compreender o não-essencial, e compreendê-lo em essência”.

Numa posição totalmente distinta de Platão e Hegel, para Leibniz, segundo Deleuze, “é o não-essencial que compreende o essencial, e o compreende somente no caso. A subsunção sob ‘o caso’ forma uma linguagem original das propriedades e acontecimentos”. Este é o procedimento da vice-dicção, consiste em assumir a Ideia como uma multiplicidade, para cuja compreensão se trata de percorrer todos os seus “casos”. Essa multiplicidade “designa o domínio no qual a Ideia está, por si mesma, muito mais próxima do acidente do que da essência abstrata, e onde ela só pode ser determinada com as questões quem? como? quanto? onde? e que caso? – formas essas que traçam suas verdadeiras coordenadas espaço-temporais”. [Esta contribuição de Leibniz será utilizada por Deleuze em Diferença e Repetição, por exemplo, ao tratar da Aprendizagem, ele a define como a conjugação entre “pontos singulares da Ideia objetivada” e “partes notáveis” do corpo do aprendiz; portanto assumindo que o alvo da aprendizagem é uma Ideia entendida como multiplicidade, na qual “pontos singulares” se destacam entre os “pontos regulares”, ao mesmo tempo que o corpo do aprendiz é a concretização de outra Ideia múltipla na qual se destacam “partes notáveis” entre “partes ordinárias” (tal como vimos nos posts anteriores sobre Aprendizagem). Para repetir o exemplo dado por Leibniz, e citado por Deleuze, a aprendizagem é a conjunção das “partes notáveis” (naquela aprendizagem) do corpo (tronco, membros e cabeça) com as ondas (pontos singulares do mar, ou seus signos).]

Colocada a Ideia, trata-se então de considerar as coisas, ou melhor, a coisa em geral. Deleuze se questiona sobre o seu traço distintivo, para concluir que ele é duplo: as qualidades que ela inclui e a extensão que ocupa. A coisa em geral pode sempre ser diferenciada em partes atuais, em regiões e pontos notáveis, que compreenderia suas qualidades, ou sua extensão interior, mas é preciso considerar também sua extensão exterior, a maneira como ela leva todo o espaço exterior a diferençar- [neologismo proposto por Deleuze que será explicado mais adiante] -se, por exemplo, o território de caça de um animal [que, durante a busca pela presa, se diferencia em setores, regiões e pontos notáveis, aqueles por onde ela passa e aquele onde ela está]. A coisa possui, portanto, uma qualificação ou especialização, e uma partição, composição ou organização. “As partes são o número da espécie, assim como a espécie é a qualidade das partes”. São estes “os dois aspectos correlativos da diferençação: espécies e partes, especificação e organização. Eles constituem as condições da representação das coisas em geral”.

Esta diferençação se dá sob a ação de um agente, os dinamismos espaço-temporais, “agitações de espaço, buracos de tempo, puras sínteses de velocidades, de direções e ritmos”. As características genéricas ou específicas, de ramificação, de ordem e de classe dependem da ação destes dinamismos, mas os fenômenos partitivos da divisão celular também resultam de ações dinâmicas, como migrações celulares, dobramentos, invaginações, estiramentos, constitutivos da “dinâmica do ovo”. É neste sentido que Deleuze pode afirmar que “o mundo inteiro é um ovo”. Estes dinamismos pressupõem sempre um “campo intensivo”, fora do qual eles não se produziriam. A experiência nos coloca sempre diante de intensidades já desenvolvidas em extensos, recobertas por qualidades, mas é preciso admitir, por isto mesmo, como condição de produção destas intensidades desenvolvidas, “a existência de intensidades puras envolvidas numa profundidade, num spatium intensivo que preexiste a toda qualidade como a todo extenso”. Este campo intensivo constitui o meio próprio do processo de individuação. “A individuação é intensiva e se encontra suposta por todas as qualidades e espécies, por todos os extensos e partes que vêm preencher ou desenvolver o sistema”. [A seguir Deleuze explicará melhor o conceito de “individuação”, por ora é suficiente considerá-lo como sendo o processo por meio do qual qualquer coisa se torna o que ela é, ele diria: “se individua”, se torna algo, um indivíduo, no sentido mais amplo do termo. Deleuze faz Ontologia do Devir, ou seja, de como o Ser vem a ser o que ele é, como ele se torna o que é, por isso, este conceito é tão importante em sua Filosofia, que é também uma Filosofia da Diferença, é diferindo de si mesma que toda coisa se faz, se torna o que é, num fluxo de mutações contínuas.]

Devido à intensidade ser diferença, diz Deleuze, torna-se necessário que as diferenças de intensidade possam se comunicarem, demandando assim um “diferenciador” da diferença, cuja denominação assumida é “precursor sombrio”. “A comunicação das séries [sucessão de estados ou modos pelos quais passa um Ser, em seu Devir, seu tornar-se, em sua diferenciação sucessiva de si mesmo, constituindo um fluxo], levada a cabo sob a ação do sombrio precursor, induz fenômenos de acoplamentos entre as séries, de ressonância interna no sistema, de movimento forçado sob a forma de uma amplitude que transborda as próprias séries de base”. Nestas condições é que um sistema [entendido provisoriamente como conjunto dos estados ou modos de ser que o Devir ou o tornar-se produz] se preenche de qualidades e se desenvolve na extensão. A qualidade é concebida sempre como “um signo ou um acontecimento que sai das profundezas, que fulgura entre intensidades diferentes e que dura todo o tempo necessário para a anulação da sua diferença constitutiva”.

Para Deleuze, não há sujeito dos dinamismos, pois estes só o admitiria como esboços que ainda não foram qualificados e nem compostos, pacientes em lugar de agentes, “únicos capazes de suportar a pressão de uma ressonância interna ou a amplitude de um movimento forçado”. Tal como revela a embriologia, há movimentos que só um embrião poderia suportar. Este “sujeito” é denominado “sujeito larvar”. Os exemplos citados por Deleuze incluem: o pesadelo [este exemplo fica mais evidente se considerarmos a concepção de Inconsciente Bricoleur que apresentamos em post anterior], o pensamento filosófico e a regressão. [Em toda a sua obra, Deleuze defende uma concepção de realidade em constante mutação, mas que não acontece por ação de um sujeito, muito menos um sujeito humano, uma vez que resulta da ação da Diferença em seu constante diferenciar-se de si mesma.]

Resgatando o início da conferência, Deleuze afirma que o conjunto das determinações que acaba de enumerar: campo de individuação, séries de diferenças intensivas, precursor sombrio, acoplamento, ressonâncias e movimento forçados, sujeitos larvares, dinamismos espaço-temporais, corresponde às questões ditas menores: quanto? quem? como? onde? e quando? Além disto, os dinamismos e seus concomitantes constituem um conjunto de linhas abstratas, que se originam na profundidade inextensa e informal, a constituir um estranho teatro, referido por Antonin Artaud como “da crueldade”, composto por determinações puras, agitando o espaço e o tempo, agindo diretamente na mente e tendo larvas por atores. São estas linhas, então, que comporão o drama ao qual um conceito pode corresponder, ao mesmo tempo em que elas dirigem sua especificação e divisão. “Dado um conceito, pode-se sempre procurar o drama que a ele corresponde, e o conceito jamais se dividiria nem se especificaria no mundo da representação sem os dinamismos dramáticos que assim o determinam num sistema material sob toda representação possível”. [Aqui se vê o sentido de “drama” ou “dramatização”, consiste na ação dos dinamismos e seus concomitantes, que ele denomina “linhas abstratas”, que se compõe por determinações puras que agitam tanto a dimensão espacial como a temporal na produção do conceito. A Ideia é intensiva e múltipla, o conceito é representativo e unificador. Deleuze está mostrando como, por meio da dramatização, este se origina daquela, portanto para se conhecer a realidade última das coisas é preciso ultrapassar os conceitos e suas representações, na direção da Ideia, em sua Multiplicidade como Diferença e Intensidade, que não se revela por sua essência, mas pela dramatização do conceito e da representação que se originam dela.]

Na sequência, para esclarecer o funcionamento dos dinamismos, Deleuze considera como exemplo o conceito de verdade. Não caberia mais perguntar “que é o verdadeiro?”, mas sim “quem quer o verdadeiro, quando e onde, como e quanto?” Para em seguida buscar sujeitos larvares desta tarefa, por exemplo, o enciumado, o moralista, e então os puros dinamismos espaço temporais: “ora fazer surgir a ‘coisa’ em pessoa, numa certa hora, num certo lugar; ora acumular os indícios e os signos, de hora em hora e segundo um caminho que jamais acaba”. Posteriormente, quando se assume o conceito de verdade, em sua representação, este se revela subdividido nestas duas direções, a da intuição e a da indução. Na primeira ele surge em pessoa, enquanto na segunda, é inferido de outra coisa, mas, em ambas é possível descobrir “os dinamismos da inquisição e da confissão, da acusação ou do inquérito, que trabalham em silêncio e dramaticamente, de maneira a determinar a divisão teórica do conceito”. [Mesmo no terreno epistemológico ou do conhecimento, da verdade, Deleuze se utiliza do seu "método da dramatização", mostrando, depois de Nietzsche, o quanto a verdade é produzida, e só vale pelo que produz, não se devendo buscar seu valor nela mesma, em sua essência, nunca evidente inversão do platonismo.]

O drama a que se refere Deleuze assemelharia, como ele mesmo declara, ao esquema kantiano, que corresponderia a uma determinação a priori do espaço e do tempo que corresponde a um determinado conceito. Mas, em Kant, a explicação sobre como o esquema adquire esse poder em relação ao conceito permanece desconhecido. Alguns pós-kantianos oferecem a Deleuze um caminho, ao indicarem que “os dinamismos espaço-temporais puros têm o poder de dramatizar os conceitos, porque eles, primeiramente atualizam, encarnam Ideias”. Na continuidade desta hipótese, Deleuze passa a se ocupar então da natureza da Ideia e sua diferença de natureza em relação ao conceito.

Deleuze considera dois aspectos fundamentais da Ideia. Por um lado, ela “consiste num conjunto de relações diferenciais entre elementos destituídos de forma sensível e de função, elementos que só existem pela sua determinação recíproca”. Como exemplos disto, cita os fonemas, as partículas físicas e os genes, que só podem ser concebidos uns em relação aos outros, em relações diferenciais. Este aspecto da Ideia seria regido então pelo princípio da determinação recíproca. De outro lado, à estas relações diferenciais corresponderiam distribuições de “singularidades”, entendidas como “repartições de pontos notáveis e de pontos ordinários, tais que um ponto notável engendra uma série prolongável sobre todos os pontos ordinários até a vizinhança de uma outra singularidade. As singularidades são acontecimentos ideais”. Este aspecto tem como princípio a determinação completa da Ideia, ou da coisa em Ideia. Em conclusão, a Ideia é concebida “como uma multiplicidade que pode ser percorrida em dois sentidos: do ponto de vista da variação de relações diferenciais e do ponto de vista da repartição das singularidades que correspondem a certos valores dessas relações”. Este duplo percurso da multiplicidade da Ideia corresponde ao que anteriormente Deleuze havia referido como vice-dicção.

A partir desta concepção da Ideia, Deleuze deriva diversas consequências. A primeira é de que a Ideia não dispõe de nenhuma atualidade, portanto, é pura virtualidade. Tanto as relações diferenciais quanto as repartições de singularidades coexistem apenas na “multiplicidade virtual” da Ideia. “A ideia só se atualiza, precisamente, à medida que suas relações diferenciais se encarnam em espécies ou qualidades separadas, e à medida que as singularidades concomitantes se encarnam num extenso que corresponde a essa qualidade”. Mas, enfatiza o princípio da não-semelhança entre as espécies ou qualidades encarnadas e as relações diferenciais e as singularidades que elas encarnam. [Esta diferenciação entre Virtual e Atual, fica mais fácil de se compreender na Teoria da Memória de Bergson. Para simplificar, podemos pensar no Virtual como sendo as lembranças tal como elas estão na nossa memória, antes que a evocação aconteça, são puras virtualidades; enquanto o Atual, ou a atualização, corresponderia à representação que dela temos quando sua evocação se completa. O processo, a dramatização, a individuação corresponderia ao esforço, ou esquema, intelectual ou motor de que nos utilizamos para trazer a lembrança à nossa consciência,, como representação, pois é nesta que ela se atualiza. É deste processo que o presente texto trata, mas o concebendo para os mais diversos seres ou coisas. Assim, Deleuze busca compreender o processo do Devir ou da Diferença. Por exemplo, o DNA é o nosso genoma como virtualidade, que se atualiza, para o químico, nas reações provocadas em laboratório, ou para o organismo, na produção de um tecido específico.]

Para referir-se à atualização, Deleuze utiliza o termo diferençação, portanto atualizar-se significa diferençar-se. Assim, deve-se afirmar que a Ideia, em sua virtualidade, é totalmente indiferençada, mas não é indeterminada. Estabelece então um traço distintivo da Ideia em sua virtualidade e em sua atualidade, o ci/ç, diferenciar e diferençar. Na sua virtualidade a Ideia é diferenciada e na sua atualidade diferençada. Podendo então afirmar que a coisa possui duas ‘metades’ que são ímpares, dessemelhantes e dissimétricas, mas, por sua vez, cada uma dessas metades divide-se ainda em duas: metade ideal: “mergulhada no virtual, e constituída, ao mesmo tempo, por relações diferenciais e singularidades concomitantes”; e metade atual: “constituída pelas qualidades que encarnam essas relações e, ao mesmo tempo, pelas partes que encarnam essas singularidades”. [Consideremos o exemplo das “ondas do mar”, de um lado, como virtualidade, há as moléculas de água, de sal e das demais impurezas, em suas relações diferenciais entre elas; do outro, na atualização do processo de produção das ondas, temos estas com suas qualidades que encarnam as relações diferenciais entre as moléculas, as singularidades do mar. Por isso, posteriormente, com Guattari, no Anti-Édipo e em Mil Platôs, Deleuze vai diferenciar o molecular do molar, o primeiro se referindo às virtualidades e o segundo às atualizações que do primeiro derivam, num processo de individuação ou dramatização, um inconsciente molecular, intensivo, bricoleur, que resulta em uma consciência molar, representativa, por exemplo; enquanto o desejo ou produção desejante corresponderá à dramatização ou individuação que gera o atual a partir do virtual, como detalharemos mais abaixo.]

Uma última implicação derivada desta concepção de Ideia se refere à diferença entre virtual e possível. Neste sentido, Deleuze conclui: “o possível é somente o conceito como princípio de representação da coisa, sob as categorias da identidade do representante e da semelhança do representado. O virtual, ao contrário, pertence à Ideia, e não se assemelha ao atual, assim como o atual não se assemelha a ele. A Ideia é uma imagem sem semelhança; o virtual não se atualiza por semelhança, mas por divergência e diferençação. A diferençação ou atualização, é sempre criadora em relação ao que ela atualiza, ao passo que a realização é sempre, reprodutora ou limitativa”.

Finalizando e resumindo sua apresentação, Deleuze resgata a questão da individuação, como a passagem da diferenciação para a diferençação:


“A diferenciação exprime a natureza de um fundo pré-individual que de modo algum se reduz a um universal abstrato, mas que comporta relações e singularidades que caracterizam as multiplicidades virtuais ou Ideias. A diferençação exprime a atualização dessas relações e singularidades em qualidades e extensos, espécies e partes como objetos de representação. Os dois aspectos da diferençação correspondem, pois, aos dois aspectos da diferenciação, mas não se lhes assemelham: é preciso um terceiro que determine a Ideia a atualizar-se, a encarnar-se assim. (...) São os dinamismos espaço-temporais no seio dos campos de individuação que determinam as Ideias a se atualizarem nos aspectos diferençados do objeto. Dado um conceito da representação, nós ainda nada sabemos. Só aprendemos à medida que descobrimos a Ideia que opera sob esse conceito, ou os campos de individuação, ou os sistemas que envolvem a Ideia, os dinamismos que a determinam a encarnar-se; é somente sob essas condições que podemos penetrar o mistério da divisão do conceito. São todas essas condições que definem a dramatização e seu cortejo de questões: em qual caso, quem, como, quanto?” (p. 139)


[Por isso é que Deleuze, retornando ao exemplo da Psicanálise, não podia aceitar o conceito de inconsciente proposto por Freud e, com Guattari, apresentou a sua “dramatização”, ou seja, em lugar de “retroprojetar” nele as representações que compõe a consciência, as figuras de papai-mamãe-filhinho(a), buscou revelar as virtualidades das quais, por um processo de individuação, movida pelos dinamismos espaço-temporais, surgem as representações consciente, então sim, entre tantas possibilidades, o velho mito triangular de Édipo. Assim, a postulação de máquinas desejantes como objetos parciais correspondem às singularidades com suas relações recíprocas e compõem a Virtualidade da qual se originam, por meio do processo de individuação, com seus dinamismo espaço-temporais, seu precursor sombrio (o Corpos sem Órgão - CsO), as representações da consciência, que compõe a Atualidade. Em outras palavras, a consciência é uma atualização, produzida pela "dramatização" ou individuação, com seus dinamismos espaço-temporais, da virtualidade das máquinas desejantes, em suas relações recíprocas. Daí, poderem dizer que o inconsciente é fábrica, produção de produção, uma vez que nele só há virtualidades, objetos parciais, singularidades em relações recíprocas, a espera dos dinamismos espaço-temporais, do precursor sombrio (CsO), para que o processo de produção de subjetividade possa ocorrer.

A Dramatização é o processo por meio do qual o Devir se realiza, a Diferença se diferencia de si mesma e é conduzida à diferençação pelos dinamismos espaço-temporais, todo ser, a se tornar o que é, como diferente de si mesmo, a todo instante, num fluxo contínuo. Todos os conceitos da Esquizoanálise, desenvolvida com Guattari, ou da Filosofia da Diferença e Repetição, para nos referirmos às suas obras solo, foram formulados seguindo este processo. Daí, a dificuldade em compreendê-los se tentamos colocá-los em esquemas de pensamento do tipo aristotélico-tomista, cartesiano, kantiano, hegeliano etc., que, em lugar deste modo de se realizar do Devir ou de se diferenciar de si da Diferença, apenas se ocupam do Ser em suas essências imutáveis, ou quase.]


REFERÊNCIA:

DELEUZE, Gilles (Org. David Lapoujade). A Ilha Deserta e outros textos (textos e entrevistas (1953-1974)). (Trad. Luiz B. L. Orlandi). São Paulo: Iluminuras, 2006. Texto 14: O método da dramatização, p. 129-154.

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